Uma comunicação política mais agressiva (como a própria política)
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Uma comunicação política mais agressiva (como a própria política)

Presidente da Asociación Latinoamericana de Investigadores en Campañas Electorales analisa três grandes mudanças na comunicação política: do novo século, de aceleração e nas mudanças


MARIO RIORDA*

“Se a política muda, também muda a comunicação, que é a política expressa em sua face pública. São o mesmo e mudaram juntas em 3 grandes fases”.


MUDANÇAS DO NOVO SÉCULO.

Atualmente, há uma sufocante personalização da política, onde as lideranças influenciam o funcionamento das instituições. O risco? Fazem crer que as instituições só funcionam se ajustadas ao líder eleito. Num cenário tomado pelo mundo digital, os meios de comunicação são híbridos, não se distinguem. Com a caótica circulação e consumo de conteúdos, o planejamento comunicacional perde certezas, é frágil e os efeitos da comunicação são pouco previsíveis. Não é mais possível pensar a política como colonizada e subordinada aos meios de comunicação. Há uma tensão na política enquanto experiência midiática, um confronto com os meios, o que fortalece identidades políticas. O Jornalismo não está excluído disso. A imprensa é um ator político cuja reputação passa a ser decidida mais no cenário da política que do profissional.


MUDANÇAS DE ACELERAÇÃO

Há um declínio na legitimidade dos partidos políticos que permite crescer movimentos antis-sistema agregando a insatisfação social com pautas de representação. Mudou a representação. No entanto, cumprir expectativas de representação é um desafio complexo e, quando não cumpridas, precariza os consensos.


Foto: Juan Manuel Rojas/ Divulgação/CP


Consensos, argumentos e ideias foram substituídos pelos discursos, que são simples, centrados em fatos e pessoas. É mais difícil sustentar o que é, pois é mais rápido e eficaz dizer o que não é, e deixar de lado a pretensão de verdade. Um pragmatismo sem limites éticos e procedimentais. O discurso justifica os meios.


A gestão da agenda governamental foi dificultada pelos temas em disputa e pela desin- formação. A falta de regulação e a perda de centralidade da comunicação faz misturar cenários, como se o público e os sons circulassem livremente entre a ópera e baile funk.

Perdeu-se os limites entre o político e não político. A ideia de campanha permanente desapareceu, tudo é permanente; não há mais campanha. Há permanente disputa e polarização quase tribal.


MUDANÇAS NAS MUDANÇAS

Existe pouco aprendizado institucional nas crises. Em vez de aprender com as crises, elas são categorizadas e renomeadas, mas não reformam o sistema.

A ideologia radicalizada, divide e tribaliza a sociedade. Os prós aplaudem e se autocelebram, porém, quebram os consensos. O que resta de moderação é quebrado por mino- rias intensas e setores radicalizados.


Havia expectativas de que o cenário pandêmico recolocasse a importância das capa- cidades estatais, limites do capitalismo, defesa ambiental mais intensa, equidade de gênero, ação estatal versus liberdade e princípios democráticos. Há dúvidas sobre a continuidade desses debates. Havia expectativas de institucionalidade – como um freio ao ego – porém, as evidências dizem o contrário.


As campanhas eleitorais são um espetáculo de fratura exposta. Para além de ganhar, querem humilhar e pisotear a forma de ser do outro. Não só que o rival tropece, mas que caia e seja ferido e humilhado.


Por fim, há pouca compreensão para reagir a esse cenário de risco com mais desprendimento e capacidade profissional, dado a falta de filtros (até cognitivos) que agravam a gestão do risco. As novas crises públicas são uma bola de neve com muitos fenômenos entrelaçados, com sistemas de emergência que reagem frente ao inédito, com incerteza extrema e ameaças de longa duração. E com problemas severos de comunicação.


As mudanças reavivam as descrenças. Não são boas nem más, são agressivas.


* Coordenador do Mestrado em Comunicação Política – Universidad Austral (Argentina); Presidente da ALICE (Asociación Latinoamericana de Investigadores em Campañas Electorales).


Mário Riorda é palestrante da aula inaugural do curso Novas Ondas da Comunicação Política (UFMG/IPESPE), no dia 2 de junho, às 19h30min, com acesso pelo cursosead.ipespe.org.br (conteúdo publicado no jornal Correio do Povo - RS)

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